Quando uma criança faz uma “birra” (o termo desagrada-me imensamente, mas temos falta de um bom termo em Português), não o faz para testar limites, para se impor, nos magoar, fazer passar vergonhas, nem nenhum outro motivo desse tipo.
Uma “birra” sinaliza uma profunda incapacidade da parte da criança em lidar com uma qualquer emoção e situação, seja ela de frustração, de zanga ou qualquer outro motivo.
Ela não precisa ser ensinada a não fazer nova “birra”, não precisa de aprender o seu lugar, nem qualquer outro dos ensinamentos que muitas vezes estão na nossa cultura geral.
A criança precisa sentir-se compreendida, aceite e precisa ligar-se a si, adulto, pai/mãe, figura privilegiada do seu Universo, para ela própria perceber o que está a sentir e conseguir, aos poucos, aprender a lidar com essa emoção de outra forma.
Agir empaticamente com uma criança que está a fazer uma “birra”, não é recompensar esse comportamento da criança. É atender à sua necessidade de conexão e compreensão.
Durante a maior parte da infância, e sobretudo nos primeiros anos de vida (5/6), a criança não tem desenvolvida a sua capacidade de regular as suas emoções e de modelar e conter o seu comportamento. Ela precisa aprender a fazê-lo. A principal forma de aprendizagem deste aspecto faz-se por modelagem ao adulto. Um adulto que em situações de stress e tensão, como uma “birra” de um filho, consegue manter a calma e a sua capacidade empática, está a ensinar ao seu filho que é possível reagir com calma nessas situações.
Aos poucos, a criança irá aprender a, também ela, se manter calma, quando se encontrar em stress de novo.
Simultaneamente, a criança aprendeu a ser empática com os sentimentos e emoções dos outros. A ser simpática e carinhosa, mesmo quando o outro não está num dos seus melhores momentos.
Da próxima vez que o/a seu/sua filho/a fizer uma “birra”, respire fundo, procure manter a calma e recorde-se que, em primeiro lugar, o que ele/a precisa é de se ligar a si de forma positiva.
Mantenha a voz calma, baixe-se ao nível/altura da criança, ofereça um abraço ou apenas a sua ajuda e verbalize que compreende que ele/a não está bem e que todos nos sentimos assim por vezes. Ofereça o seu amor, e o seu carinho. Ou apenas a sua aceitação e presença serena. A longo prazo, este tipo de respostas irá produzir melhores resultados (e mais duradouros) que zangar-se, impor-se ou ignorar.
Entretanto, poderá reflectir para si, sobre o seu próprio comportamento, as suas próprias emoções, e tentar perceber se algo que tenha feito ou dito poderá ter ajudado à escalada emocional da sua criança.
Depois, com essa reflexão efectuada e quando estiverem ambos calmos, mais tarde, ou noutro dia, podem tentar falar sobre o assunto e assim procurar ajudar o seu filho/a a compreender-se e reagir de outra forma. Mas isso é outro momento.
O momento da “birra”, da emoção, requer sobretudo conexão, compreensão e empatia da sua parte.
Alexandra Pinto
Psicóloga Clínica e do Desenvolvimento
Doutorada em Psicologia do Desenvolvimento
Da Barriga ao Colo